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LUIS KAWAGUTI
TALITA BEDINELLI
da Folha de S.Paulo
Com um vaso de flores para simular a entrega de um presente no Dia das Mães, cerca de 15 homens invadiram uma casa na rua Estados Unidos, nos Jardins (zona oeste de SP), neste domingo (10), e roubaram um quadro de Tarsila do Amaral, dois de Candido Portinari e um de Orlando Teruz. Para retirar as obras da moldura, os ladrões usaram uma espécie de faca --o que pode ter danificado as obras.
As telas levadas foram "Figura em Azul" (1923), de Tarsila, "Cangaceiro" (1956) e "Retrato de Maria" (1934), de Portinari, e "Crucificação de Jesus", de Teruz. Juntas, elas têm valor estimado em R$ 3 milhões.
Para a polícia, os alvos não eram as obras, mas um cofre. Como não havia nada dentro dele, o bando fez uma varredura na casa, onde estavam a proprietária Ilde Maksoud, 85, ex-mulher do empresário Henry Maksoud, e quatro funcionários --entre eles um vigia. A nora de Ilde, que chegou à casa durante o assalto, também foi rendida. Ninguém foi ferido.
Só depois de revistarem a casa atrás de dinheiro e joias, os ladrões pegaram as obras. Bijuterias e R$ 120 dos funcionários também foram levados. Ilde Maksoud é conhecida por sua coleção. Para a polícia, no entanto, os ladrões decidiram invadir a casa não por conta das obras, mas por considerar o imóvel pouco seguro -só havia um vigia desarmado.
O delegado Celso Damasceno, do 78º DP (Jardins), disse considerar os assaltantes "amadores". Jones Bergamin, diretor-presidente da Bolsa de Arte do Rio, concorda: os ladrões danificaram as telas.
Além dos cortes feitos para retirá-las das molduras, quando as obras foram enroladas, parte da tinta deve ter saído. "A tinta está seca há muito tempo, já está bastante dura. Quando as telas são enroladas, a tinta despenca", afirma Bergamin.
João Candido Portinari, filho do pintor, estima que 95% das 4.991 obras de seu pai catalogadas pelo Projeto Portinari estejam nas mãos de colecionadores particulares e que roubos como esses são comuns. Ele diz que as duas obras são de períodos significativos do pintor.
Os ladrões também danificaram uma escultura de Victor Brecheret (1894-1955). "Não sabemos por que os criminosos arrancaram a base da escultura. Ela foi encontrada jogada na casa", afirmou o delegado.
Presente
Os criminosos chegaram à residência por volta das 9h20 de ontem. Um ladrão com um vaso de flores disse que levava um presente de Dia das Mães e foi autorizado a entrar. Ele, então, rendeu o vigilante e abriu a porta para os outros ladrões.
"Havia alguns vestidos com uniformes da Polícia Federal. Eles falaram que estavam dando uma batida policial. Me fizeram subir até o quarto da patroa e acordá-la", disse a camareira Maria Aparecida Nicoleti. Antes de fugir por volta das 10h15, o bando fez sanduíches e bebeu refrigerantes na cozinha -várias impressões digitais foram encontradas.
Para a polícia, os ladrões tiveram informações privilegiadas de pessoas ligadas à casa. "Eles falaram que não tinha nada de valor na casa e "iam pegar o cara" que deu a dica para eles", afirmou a camareira.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u563565.shtml